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Não Sabemos mesmo O Que Importa

Autor: Paul Celan
Título: Não Sabemos mesmo O Que Importa: Cem Poemas
Local de publicação: Lisboa
Editora: Relógio D’Água Editores
Ano de publicação: 2014
Tradução: Gilda Lopes Encarnação
Número de páginas: 264
Palavras-chave: poesia do Holocausto; literatura do Holocausto


Índice

Mohn und Gedächtnis / Papoila e Memória (1952)
Von Schwelle zu Schwelle / De Limiar em Limiar (1955)
Sprachgitter / Grades da Linguagem (1959)
Die Niemandsrose / A Rosa de Ninguém (1963)
Atemwende / Viragem na Respiração (1967)
Fadensonnen / Sóis em Fio (1968)

Índice de títulos e primeiros versos em alemão
Índice de títulos e primeiros versos em português

Posfácio
Bibliografia


Sinopse

Antologia bilingue com cem poemas recolhidos dos livros que publicou em vida, de Papoila e Memória [Mohn und Gedächtnis] (1952) até Sóis em Fio [Fadensonnen] (1968). Paul Celan (1920-1970) nasceu na cidade então romena de Czernowitz, filho de judeus de língua alemã que foram deportados em 1942 e viriam a morrer nos Lager. Sobrevivente do Holocausto, esteve em campos de trabalho durante 18 meses. Depois da guerra, retoma os estudos e, entre outras atividades, dedica-se à tradução. Em 1947, sai da Roménia para Viena e, no ano seguinte, passa a viver em Paris até à sua morte, em 1970. Um dos mais destacados poetas de língua alemã do pós-guerra, Celan explora os limites da linguagem em versos de formulações complexas, exigentes, herméticas (classificação que o poeta refutava). O título desta antologia é constituído pelos últimos três versos do poema “Zurique, no Hotel A Cegonha”. Um dos raros poemas com referências diretas a locais e/ou eventos históricos, tem como ponto de partida o encontro que teve em 1960 com Nelly Sachs, a quem dedica o poema. Ambos poetas judeus de língua alemã que viviam sob o peso da sobrevivência ao Holocausto, mantiveram uma correspondência ao longo de 15 anos, onde, tal como neste poema, também debatiam o judaísmo como parte da sua identidade. Numa obra de difícil categorização, e recorrendo às palavras que o próprio Celan escreveu no texto “O Meridiano”, a poesia “é qualquer coisa que pode significar uma mudança na respiração”, onde também acrescenta: “O poema é solitário. É solitário e vai a caminho. Quem o escreve torna-se parte integrante dele.”


Excerto

ZURIQUE, NO HOTEL A CEGONHA

          Para Nelly Sachs

Falávamos do excesso, da
carência. Do Tu
e Contudo-Tu, do
turvo pela claridade, do
judaico, do
teu Deus.

Dis-
-so.
No dia de uma ascensão, a
catedral ficava acolá, vinha
com algum ouro sobre as águas.

Falávamos do teu Deus, eu falava
contra ele, eu
deixei o coração que possuía
ter esperança:
na
sua palavra suprema, agonizada, na sua
palavra quezilenta –

Teu olho fitou-me, desviou-se
tua boca
seguiu o olho, eu escutei:

Nós
não sabemos mesmo, sabes,
nós
não sabemos mesmo
o que
importa.

(p. 97)


Outras obras de Paul Celan

• Edições em português
     Sete Rosas Mais Tarde. Antologia Poética. Seleção, tradução e introdução de João Barrento e Y. K. Centeno. Lisboa: Edições Cotovia, 1993 [reedição, Lisboa: Relógio D’Água, 2022].
     Arte Poética. O Meridiano e Outros Textos. Tradução de João Barrento e Vanessa Milheiro. Lisboa: Edições Cotovia, 1996 [reedição, Lisboa: Relógio D’Água, 2022].
      A Morte é uma Flor. Poemas do Espólio. Tradução, posfácio e notas de João Barrento. Lisboa: Edições Cotovia, 1998 [reedição, Lisboa: Relógio D’Água, 2022].
     Os Primeiros Poemas. Prefácio e tradução de Yvette Kace Centeno. Porto: Modo de Ler, 2019.
     Tempo do Coração – Correspondência (com Ingeborg Bachmann). Trad. Claudia J. Fischer e Vera San Payo de Lemos. Lisboa: Antígona Editores Refractários, 2020.
     Os Poemas. Trad. Maria Teresa Dias Furtado. Lisboa: Assírio & Alvim, 2022.

• Edições em alemão

     Werke. Historisch-kritische Ausgabe. I. Abteilung: Lyrik und Prosa. Bände 1-16. Frankfurt am Main; Berlin: Suhrkamp, 1990-2017.
     Briefwechsel (com Nelly Sachs). Ed. Barbara Wiedemann. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1993.
     Herzzeit. Briefwechsel (com Ingeborg Bachmann). Ed. comentada de Bertrand Badiou, Hans Höller, Andrea Stoll e Barbara Wiedemann. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 2009.
     »etwas ganz und gar Persönliches«. Briefe 1934-1970. Ed. comentada de Barbara Wiedemann. Berlin: Suhrkamp, 2019.
     Die Gedichte. Neue kommentierte Gesamtausgabe. Ed. comentada de Barbara Wiedemann. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 2020.