Autor: Serge Bilé
Título: Noirs dans les camps nazis [Negros nos campos nazis]
Local de publicação: Mónaco
Editora: Editions du Rocher
Ano de publicação: 2016
Número de páginas: 168
Palavras-chave: campos de concentração; pessoas negras; prisioneiros negros; racismo; política racial, genocídio
Índice
I. Konzentrationslager
II. Race inférieure
III. La honte noire
IV. Stérilisation
V. De Dar es-Salam à Sachsenhausen
VI. Cauchemar
VII. Au Guelowar
VIII. Exécutions
IX. Nassy
X. Piège danois
XI. Terre muette et stérile
XII. Neg Doubout
XIII. Tous esclaves
XIV. Buchenwald
XV. Um Martiniquais dans l’enfer
XVI. L’ivoirien de Neuengamme
XVII. L’autre Gorée
XVIII. Le révolutionnaire du Surinam
XIX. Racisme
XX. Un Congolais a Dachau
XXI. Le Norvégien noir
XXII. Blanchette
XXIII. L’Équato-Guinéen de Mauthausen
XXIV. Kapo noir à Auschwitz
XXV. Libérateurs noirs
Sinopse
Breve introdução a um tema pouco falado – o das pessoas negras vítimas do sistema concentracionário nazi – escrita por um jornalista, num formato e registo de divulgação, de acesso simples, com alguma informação de caráter geral, pouco aprofundada, e com recurso a curtas histórias de vida de vítimas negras do Holocausto, entre as quais duas mulheres e algumas figuras de destaque na cultura negra, como Léopold Sedar Senghor ou Frantz Fanon, dado o envolvimento de ambos na Segunda Guerra Mundial, enquanto parte das tropas coloniais francesas.
O livro tem uma estrutura heterogénea e algo desordenada, com poucas referências, problematizando pouco os contextos, e abordando os relatos biográficos de forma simplista, com recurso a alguns relatos na primeira pessoa, e um tom ora dramático ora ligeiramente anedótico. Contudo, tem a virtude de informar sobre a presença histórica de pessoas negras na Alemanha, desde a Antiguidade, e com maior relevo a partir do final do séc. XIX, com o início do breve império colonial alemão em África e a imigração de alguns colonizados para a metrópole. Associa, ainda, as práticas racistas e coloniais e o genocídio do povo Herrero na Namíbia com o que viria a ser o genocídio nazi. Relata a história dos afro-alemães, desde a fundação de pequenas comunidades de imigrantes das colónias, nomeadamente em Hamburgo, passando pela Primeira Guerra Mundial e a ocupação da Renânia por tropas coloniais francesas, um acontecimento que viria a ser explorado pela propaganda nacionalista e nazi, como a “vergonha negra do Reno”. De facto, um amplo espetro da sociedade alemã, incluindo a esquerda, revelava um forte desagrado com a presença dos “Bastardos da Renânia” em solo alemão, ou seja, os filhos e filhas de relações de mulheres alemãs brancas com soldados racializados, negros ou árabes. Muitas destas crianças foram institucionalizadas. No quadro do Estado nazi, as pessoas negras foram expostas à mesma perseguição, por motivos raciais, que outras populações, como a judaica ou a Roma, foram submetidas a esterilizações forçadas e presas. O autor descreve tanto a marginalização, a perseguição e a prisão de pessoas negras como as parcas possibilidades de fuga, por exemplo, como artistas de circo ou figurantes em filmes do cinema colonial. Para além disso, refere pessoas negras apanhadas pelos nazis em resultado do seu envolvimento na Segunda Guerra Mundial, como soldados franceses e britânicos, ou como membros da resistência na França, Bélgica e Holanda, o que teria conduzido a prisões e permanência e morte nos campos, ou, nalguns casos, à sobrevivência.
Excerto
"Capítulo VI. Pesadelo.
Tal como Bayume Mohamed Husen, outros afro-alemães e outras pessoas negras residentes na Alemanha foram atirados por uma razão ou por outra para os campos de concentração antes e durante a Segunda Guerra Mundial.
Foi o caso de Charlie Manu, originário também de Dar es-Salaam. Foi preso em 1937 em Sachsenhausen.
Foi o caso do seu compatriota Abdullah Bem Mossa, preso em 1938 e enviado primeiro para Sachsenhausen e depois para o campo de Kreuzburg, a partir de 1944.
Foi o caso de Guillermito Ster. Preso em 1938, este nativo de Curaçao foi enviado para Sachsenhausen, onde viria a morrer em janeiro de 1943.
Foi o caso do negro americano Robert Demys, enviado em junho de 1940 para o campo de concentração de Sachsenhausen. Não se sabe o que foi feito dele.
Foi o caso de Lucie Muth, nascida em Berlim em 1923. Passou pelo campo de concentração para meninas de Uckermark antes de ser transferida, em fevereiro de 1943, para Ravensbrück.
Foi o caso da camaronesa Josefa van der Want, nome de solteira Boholle, detida em 1943 no campo de concentração de Bromberg, depois em Stutthof, na Polónia.
Foi o caso de uma outra camaronesa, Erika N’Gando, presa como «associal» e levada em 12 de outubro de 1940 também para Ravensbrück, de onde nunca mais regressaria. Ravensbrück, onde se encontra na mesma época uma mulher negra, testemunha de Jeová, de cujo nome ninguém se recorda, bem como duas outras afro-alemãs, J. Bolau e uma prisioneira política, Johanna Peters. (…)
Theodor Michael, nascido em Berlim de pai camaronês e de mãe alemã, é um dos maiores atores da sua época. Conseguiu escapar à deportação, mas não seria, porém, poupado pelos nazis que o enviaram, durante a guerra, fabricar munições num campo de trabalho.
Foram os soldados russos, completamente surpresos por encontrarem um negro ainda vivo num lugar daqueles, que o libertaram em 1945.
«Depois da guerra, devolveram-me o meu passaporte», explica Theodor Michael. «Foi a única indemnização que a Alemanha me concedeu. Foi a mesma coisa para todos os afro-alemães que foram esterilizados. Nunca obtiveram qualquer tipo de reparação. Deram-lhes a entender que deviam considerar-se felizes só pelo facto de ainda estarem vivos!»"
Outras obras de Serge Bilé
La légende du sexe surdimensionné des noirs. Monaco : Éditions du Rocher/Le Serpent à Plumes, 2005.
Sur le dos des hippopotames : une vie de nègre. Paris : Calmann-Lévy, 2006.
Quand les Noirs avaient des esclaves blancs. Saint-Malo : Pascal Galodé, 2008.
Et si Dieu n'aimait pas les Noirs: enquête sur le racisme aujourd'hui au Vatican. Saint-Malo : Pascal Galodé, 2009.
Blanchissez-moi tous ces nègres! Saint-Malo: Pascal Galodé, 2010.
La Mauresse de Moret - La religieuse au sang bleu. Saint-Malo : Pascal Galodé, 2012.
Esclave et bourreau : l'histoire incroyable de Mathieu Léveillé, esclave de Martinique devenu bourreau au Canada. [La Tour-d'Aigues] : Le Serpent à plumes, 2016.
Dans le jardin secret d'Aimé Césaire. Pointe-à-Pitre : Éditions Jasor, 2017.
Les Noirs dans l'histoire : clichés et préjugés de l'époque coloniale à nos jours (com Mathieu Méranville). Paris : L'Archipel, 2017.
Boni : la naissance d'un peuple. Rémire-Monjoly : Rymanay, 2018.
Le seul passager noir du Titanic. Abidjan : Cercle média, 2019.
Mais informações sobre Serge Bilé aqui.