Autor: Primo Levi (entrevista com Anna Bravo e Federico Cereja)
Título: O Dever de Memória
Local de publicação: Lisboa
Editora: Edições Cotovia
Ano de publicação: 2010
Tradução: Esther Mucznik
Número de páginas: 107
Edição em francês: Le devoir de mémoire. Paris: Mille et une nuits, 1995.
Palavras-chave: Memória; testemunho; Auschwitz; Eichmann
Índice
Introdução.
O dever de memória (Entrevista com Anna Bravo e Federico Cereja)
Contra o esquecimento (Federico Cereja)
Vida de Primo Levi
Sinopse
Entrevista feita em 1983 por Anna Bravo e Federico Cereja. Quase quarenta anos depois de ser deportado, Primo Levi continua a partilhar o testemunho da sua experiência no Lager. Muitos dos temas abordados são repetidos e Levi refere mesmo que utiliza uma “memória artificial” (p. 24) – isto é, que ele mesmo se recorda de muito do que fala através daquilo que fora escrevendo. À objetividade que o caracteriza quando descreve a chegada ao Lager, a vivência (e sobrevivência) ou os temas ali considerados tabus, juntam-se reflexões de várias naturezas, como a identitária – no seu caso, a condição de judeu italiano e laico, praticamente sem convicções religiosas. Outros temas também são brevemente abordados, como as ligações entre os Lager e algumas empresas, como a IG Farben, para a qual Primo Levi, enquanto químico, trabalhou no seu período como prisioneiro. Muitas vezes, Primo Levi responde às questões do/da entrevistador(a) com perguntas: “O que significa perder a identidade?” (p. 35); “(...) porque se faz a guerra?” (p.46); “Mas como é que se pode exigir uma tal lucidez [face ao perigo de judeus permanecerem e não fugirem]? Pensa que hoje vivemos lucidamente?” (pp. 55-56); “E por que razão os alemães de hoje não são como os de ontem?” (p. 73). Algumas destas perguntas são alvo de análise e reflexão; noutras, deparamo-nos com a impossibilidade de uma resposta. Seja qual for o caso, a importância e “o dever de memória” são uma constante ao longo de toda a intervenção de Primo Levi.
Excerto
“– E talvez as perguntas, que se repetem, que se repetem forçosamente...
– Sim, mas há também outra coisa. Tenho de o dizer: uma dessas perguntas que se repetem é a do porquê de tudo isto, porquê os homens estarem em guerra, por que razão se criaram os Lager, porque exterminaram os judeus, e é uma pergunta à qual eu não posso responder. Eu sei que ninguém pode responder a isto; por que razão se fazem guerras, porque se fez a Primeira Guerra Mundial, depois a Segunda – e fala-se mesmo de uma Terceira –, esta questão atormenta-me porque não lhe sei responder. A minha resposta-tipo é que isso faz parte da nossa herança animal, que a consciência do território, a territorialidade é conhecida dos cães, dos rouxinóis e de todos os animais; eu digo-o, mas não acredito nisso. E agora gostava de lhe perguntar a si: saberia responder a esta questão: porque se faz a guerra? Porque se torturam os inimigos como o faziam os romanos e como o faziam os nazis? E, no entanto, durante meio século, tinha-se parado de o fazer, respeitavam-se os prisioneiros de guerra, mas isso não durou muito tempo; actualmente vivemos num período cruel. Pois bem, não sei responder a não ser com generalidades vagas sobre o facto de que o homem é mau, que não é bom. Sobre esta questão que me colocam frequentemente, sobre a bondade ou a maldade humana, como responder? Que há homens bons, outros que não o são, que cada um é uma mistura de bom e de mau?”
(pp. 45-46)
Outras obras de Primo Levi
• Edições em português
Se Isto é um Homem. Trad. Simonetta Cabrita Neto. Lisboa: Teorema, 1988 [ed. original, Se questo è un uomo (1947)].
Se Não Agora, Quando?. Trad. José Colaço Barreiros. Lisboa: Dom Quixote, 1988 [ed. original, Se non ora, quando? (1982)].
A Trégua. Trad. José Colaço Barreiros. Lisboa: Teorema, 2004 [ed. original, La trégua (1963)].
Os que Sucumbem e os que se Salvam. Trad. José Colaço Barreiros. Lisboa: Teorema, 2008 [ed. original, I sommersi e i salvati (1986)].
O Sistema Periódico. Trad. Maria do Rosário Pedreira. Alfragide: Teorema, 2012 [ed. original, Il sistema periodico (1975)].
O Último Natal de Guerra. Trad. Clara Rowland. Lisboa: Cotovia, 2015 [ed. original, L'ultimo Natale di guerra (1986)].
Assim Foi Auschwitz. Testemunhos 1945-1986 (com Leonardo de Benedetti). Org. Fabio Levi e Domenico Scarpa. Trad. Federico Carotti. Lisboa: Objectiva, 2015 [ed. original, Così fu Auschwitz. Testimonianze 1945-1986 (2015)].
Auschwitz, Cidade Tranquila. Trad. Diogo Madre Deus e Maria do Rosário Pedreira. Alfragide: Publicações Dom Quixote, 2021 [ed. original, Auschwitz, città tranquilla (2021)].
A Chave de Luneta. Trad. João Coles. Coimbra: Minotauro, 2021 [ed. original, La chiave a stella (1978)].
• Testemunho/Ensaio/Entrevistas
Se questo è un uomo. Torino: De Silva, 1947.
La tregua. Torino: Einaudi, 1963.
I sommersi e i salvati. Torino: Einaudi, 1986.
Conversazioni e interviste 1963-1987. Torino: Einaudi, 1997.
L'asimmetria e la vita. Articoli e saggi 1955-1987. Torino: Einaudi, 2002.
Così fu Auschwitz. Testimonianze 1945-1986. (com Leonardo De Benedetti; org. Fabio Levi e Domenico Scarpa). Torino: Einaudi, 2015.
• Romances
La chiave a stella. Torino: Einaudi, 1978.
Se non ora, quando?. Torino: Einaudi, 1982.
• Contos
Storie naturali (com o pseudónimo Damiano Malabaila). Torino: Einaudi, 1966.
Vizio di forma. Torino, Einaudi, 1971.
Il sistema periodico. Torino: Einaudi, 1975
L'ultimo Natale di guerra. Milano: Il triangolo rosso, 1986.
Auschwitz, città tranquilla. (Org. Fabio Levi e Domenico Scarpa). Torino: Einaudi, 2021.
• Antologias Poéticas
L'osteria di Brema. Milano: All'insegna del pesce d'oro, 1975.
Ad ora incerta. Milano: Garzanti, 1984.
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