De origem grega, a palavra Holocausto é um termo bíblico que significa um sacrifício pelo fogo. Tem assim, um sentido expiatório, traduzindo um ato ou processo de reconciliação, que, como, entre muitos outros, mas com particular incisividade, apontou Giorgio Agamben, o torna muito inadequado para referir o genocídio nazi. Na tradição judaica, é, por isso, mais corrente o uso da palavra hebraica Shoah, com o significado de calamidade ou catástrofe. Não obstante, o termo Holocausto começou a ser utilizado muito cedo, ainda antes do fim da guerra, para referir as perseguições nazis. O seu uso alargado foi definitivamente impulsionado pelo impacto mediático da série televisiva norte-americana de 1978, Holocaust. The Story of the Family Weiss. Com guião de Gerald Green e realização de Marvin J. Chomsky, esta série foi exibida em janeiro de 1979 na República Federal da Alemanha, originando uma extensa polémica e obtendo enorme ressonância entre o público em geral, no que pode ser considerado um dos momentos marcantes de confrontação com o passado nacional-socialista. Foi também exibido na altura em muitos outros países, incluindo Portugal. A partir do início dos anos 80, o uso do termo tornou-se corrente no discurso científico e na vasta produção bibliográfica sobre o tema, sendo também popularizado pela designação de instituições como o Holocaust Memorial Museum de Washington ou pela atribuição corrente a memoriais como o “monumento ao Holocausto” em Berlim (cujo nome oficial é o de “monumento aos judeus da Europa assassinados”).
Num sentido restrito, o termo é aplicado ao extermínio dos judeus. Apesar de esta opção ser defendida por muitos autores, não há nenhum razão para restringir o uso do termo dessa forma, excluindo, nomeadamente, o genocídio dos sinti e roma, igualmente visados enquanto grupo a exterminar, ou a assassínio em massa de populações eslavas, pelo que, em sentido amplo, o termo abrange o conjunto das práticas genocidas nacional-socialistas.
Referências
Agamben, Giorgio (1999), Ce qui reste d'Auschwitz. L'archive et le témoin. Trad. Pierre Alferi. Paris: Rivages.
Petrie, Jon (2000), “The Secular Word HOLOCAUST: Scholarly Myths, History, and 20th Century Meanings”, Journal of Genocide Research, 2(1), 31-63.