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Sinti e Roma

De acordo com as classificações raciais nazis, os ciganos pertenciam à categoria da “sub-humanidade” e foram, tal com os judeus, objeto de perseguição sistemática. A retirada de direitos cívicos consignada nas leis de Nuremberga de 1935 abrangia também os sinti e roma. Em 1938, foi criada a “Central do Reich para o Combate aos Ciganos” – de acordo com Heinrich Himmler, a “resolução da questão cigana” deveria fazer-se de acordo com a “natureza desta raça”. Tal como na definição da “raça” judaica, a perseguição e deportação dos ciganos baseou-se numa antropologia pseudocientífica, nomeadamente em pareceres elaborados a partir de 1936 pelo “Centro de investigação sobre a higiene racial e a biologia da população”, dirigido por Robert Ritter. Já em 1936 começara a exclusão e o confinamento em campos e guetos. Em 13-16 de junho de 1938, teve lugar em todo o território alemão uma vasta operação culminando no envio para Dachau, Buchenwald e Mauthausen de milhares de sinti e roma, classificados como “associais” e “preguiçosos”.

Após o início da guerra, tornou-se obrigatório o registo policial, acompanhado da proibição do nomadismo. Em maio de 1940, teve início a deportação sistemática para os campos da Polónia. Os “grupos de intervenção” (Einsatzgruppen) foram responsáveis pelo assassínio em massa de dezenas de milhares de sinti e roma no território invadido da União Soviética, na Jugoslávia e noutros locais. Uma ordem de Himmler de 16 de dezembro de 1942 impunha a deportação para campos de concentração de todos os sinti e roma (incluindo “mestiços”) residentes nos territórios sob domínio alemão. Em conformidade, foi estabelecido em Auschwitz-Birkenau, em março de 1943, um “campo para ciganos”. O número de vítimas mortas em Auschwitz cifra-se num mínimo de 17 000. A estimativa dos números totais de sinti e roma vítimas de genocídio cifra-se entre 200 000 e 500 000.

Diferentemente do genocídio judeu, o genocídio dos sinti e roma só muito tardiamente e, em parte, apenas por pressão de organizações de sobreviventes, veio a ser reconhecido, tanto pelas instâncias oficiais como pela investigação histórica – durante muito tempo, a recusa em aceitar que em ambos os casos, foi o mesmo conceito de “raça” que serviu de base à perseguição e ao extermínio nutriu-se da persistência dos estereótipos que ainda hoje se ligam à figura do “cigano” e que, em última análise, haviam servido de detonador do genocídio nazi.

 

Referências
      Bársony, János; Daróczi, Ágnes (orgs.) (2008), Pharrajimos. The Fate of the Roma during the Holocaust. New York: IDEA.
     Hackl, Erich (1983), Adeus a Sidonie. Trad. Paulo Osório de Castro. Lisboa: Difel.
     Roserberg, Otto (2001), A Lente de Aumento: os Ciganos no Holocausto. Org. Ulrich Enzensberger. Trad.
Pedro Miguel Dias. Lisboa: Âncora.
     Zimmermann, Michael (1996), Rassenutopie und Genozid. Die nationalsozialistische „Lösung der Zigeunerfrage“. Hamburg: Christians.