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Auschwitz

A centralidade de Auschwitz no sistema de extermínio nacional-socialista levou a que se tornasse no símbolo maior do genocídio nazi. Criado, em maio/junho de 1940, nas cercanias da cidade polaca de Oświęcim (em alemão, Auschwitz), na Alta Silésia, Auschwitz foi o maior dos campos de concentração e de extermínio. Ao longo da sua existência, foi-se expandindo permanentemente, tornando-se um vasto complexo de campos que abrangia, além do campo central, os campos de Birkenau (Auschwitz II) e de Monowitz (Auschwitz III, também Buna), além de 38 campos externos. Estima-se que um mínimo de 1,1 milhões de pessoas, na maioria judeus deportados de toda a Europa sob domínio nazi, mas também um grande contingente de sinti e roma, entre outros, tenham aqui sido assassinadas.

Previsto originalmente para albergar prisioneiros políticos, sobretudo polacos, Auschwitz depressa se expandiu. Na primavera de 1941, o conglomerado I. G. Farben, o gigante da indústria química alemã, estabeleceu uma colaboração estreita com o sistema concentracionário, instalando-se nas proximidades de Auschwitz e explorando intensivamente a mão de obra disponibilizada pela direção do campo, comandada por Rudolf Höß, para a produção de borracha sintética e de “buna”, um tipo particular de borracha sintética extraído do carvão.

Após a invasão da União Soviética e tendo em mira as transferências de populações e a criação de “espaço vital” para a colonização alemã previstas no “Plano Geral de Leste”, iniciou-se, no outono de 1941, a construção de um segundo campo, o de Birkenau, a cerca de 3 km do existente, previsto para albergar pelo menos 50 000 prisioneiros de guerra soviéticos a submeter a trabalho forçado.

As primeiras experiências de liquidação de prisioneiros com o uso de Zyklon B tiveram lugar em Auschwitz no início de setembro de 1941. As vítimas foram prisioneiros soviéticos e outros prisioneiros, sobretudo judeus polacos, já incapazes para o trabalho. Rapidamente, no âmbito da “Solução Final”, Auschwitz-Birkenau se tornaria um lugar de extermínio central. Logo no início de 1942 se iniciaram as primeiras liquidações em massa através do gás. Em junho foi construída a primeira câmara de gás. Visando, de início, judeus polacos, a breve trecho confluíram para o campo judeus deportados de toda a Europa. Destinados ao extermínio, aqueles considerados como aptos para o trabalho no processo de seleção realizado imediatamente à chegada eram provisoriamente poupados e utilizados como mão de obra, sobretudo na construção do complexo industrial da I.G. Farben, que se tornou a primeira empresa privada a financiar a construção de um campo de concentração, fazendo erigir, em outubro de 1942, o campo de Monowitz, destinado à produção de buna. Seguir-se-iam muitas outras empresas que, em 1942 e 1943, estabeleceram filiais no complexo de Auschwitz com vista à exploração do trabalho forçado.

Auschwitz foi também um centro para experiências médicas, visando, sob a direção de Josef Mengele, investigações pseudocientíficas que se faziam com inteiro desprezo pela saúde e pela vida dos prisioneiros. Birkenau dispunha de quatro gigantescos crematórios que operavam praticamente sem interrupção e permitiam a liquidação das vítimas a uma escala industrial de muitos milhares por dia. Em outubro de 1944, membros dos Sonderkommando (“comandos especiais”) encarregados do funcionamento dos crematórios iniciaram um levantamento, fazendo explodir o crematório IV e matando muitos guardas SS, antes de serem, por seu turno, liquidados. Pouco depois, Heinrich Himmler ordenou o desmantelamento das instalações. Com a aproximação do Exército Vermelho, o campo foi precipitadamente evacuado, a 18 e 19 de janeiro, com os prisioneiros em condições de caminhar – ao todo, cerca de 25 500 – a serem enviados numa “marcha da morte” para ocidente. O campo foi libertado em 27 de janeiro de 1945 pelos soviéticos, que encontraram apenas 2819 sobreviventes.

(ver também Processo de Auschwitz)

 

Referências
     Chare, Nicholas; Dominic Williams (2019), The Auschwitz Sonderkommando. Testimonies, Histories, Representations. New York: Springer.

     Gutman, Israel (1994), Anatomy of the Auschwitz Death Camp. Bloomington: Indiana University Press.
     Langbein, Hermann (2005), People in Auschwitz. Toronto: Fitzhenry and Whiteside.
     Mucznik, Esther (2015), Auschwitz: Um Dia de Cada Vez. Lisboa: A Esfera dos Livros.
     Rees, Laurence (2005), Auschwitz. A New History. Hachette UK.
     Wieviorka, Annette (1999), Auschwitz Explicado à Minha Filha. Trad. Miguel Serras Pereira. Oeiras: Celta Editora.