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Arianização

(em alemão, Arisierung)

O conceito de “ariano”, surgido no século XVIII, provém inicialmente das investigações sobre a origem das línguas indo-europeias. No século XIX, o conceito, em particular na Alemanha, foi sendo crescentemente associado a uma delimitação étnica, com o postulado de uma mítica “raça ariana” que representaria a supremacia, no seio da “raça branca”, de uma etnia, por natureza, com a vocação de domínio (“Herrenrasse”). Coube, em particular, ao francês Arthur de Gobineau, na sua obra Ensaio sobre a Desigualdade das Raças Humanas, publicada em 1853-1855, o desenvolvimento de uma teoria racial cujo ponto de partida é o conceito de degenerescência que, segundo o autor se deve à prática da “mistura de raças” que deve, por conseguinte, ser intransigentemente combatida. Sobretudo após a tradução para alemão, em 1900, a obra de Gobineau exerceu larga influência na Alemanha. Já antes, em 1899, Houston Stuart Chamberlain publicara a obra Os Fundamentos do Século XIX, destinada a ser a referência fundamental do nacionalismo antissemita na Alemanha do século XX, tendo deixado traços marcados em A Minha Luta, de Adolf Hitler. Alfred Rosenberg, um dos principais ideólogos nacional-socialistas, publicou, em 1928, a obra O Mito do Século XX, expressamente concebida como prossecução das ideias de Chamberlain e também muitíssimo influente.

No discurso nacional-socialista, “ariano” constitui-se como antónimo de “judeu”. Em A Minha Luta, Hitler construíra uma imagem do “judeu” como intrinsecamente materialista e interesseiro, além de biologicamente degenerado, como uma figura, literalmente, parasitária que constitui uma ameaça mortal para o “ariano”, cuja missão de único produtor de cultura está permanentemente posta em causa pela “mistura de raças”. Após a tomada do poder, os nacional-socialistas levaram até às últimas consequências o mito da “raça germânica” ou “ariana”, executando um programa de “arianização” radical da política e da sociedade alemãs, ou seja, de exclusão absoluta dos “judeus”. A “Lei para o restabelecimento do funcionalismo de carreira”, de 7 de abril de 1933, que vedava a “não-arianos” o acesso ao funcionalismo público e determinava a imediata aposentação compulsiva de funcionários judeus, foi o primeiro de uma série de diplomas que, progressivamente, cumprem um programa de total exclusão que culminaria na deportação e no Holocausto.

Em sentido restrito, entende-se por arianização a gradual exclusão dos judeus da vida económica alemã, nomeadamente, através da transferência forçada de propriedade para mãos “arianas”. Calcula-se que, até 1939, cerca de cem mil empresas tenham sido vendidas por preços muito abaixo do seu valor ou a preços simbólicos pelos proprietários judeus ou tenham sido simplesmente expropriadas. A arianização neste sentido permitiu a amplos sectores da sociedade alemã extensos benefícios financeiros, assegurando a sua plena cumplicidade com o regime.

 

Referências
     Aly, Götz (2007), Hitler’s Beneficiaries: Plunder, Race War, and the Nazi Welfare State. New York: Metropolitan Books.