O Exército Vermelho de Trabalhadores e Camponeses, conhecido como Exército Vermelho, foi criado a seguir à Revolução Russa de 1917 para lutar contra as confederações militares que se lhe opunham, nomeadamente o Exército Branco, na guerra civil (1917-1923). Tinha como função defender a República Socialista Federativa da Rússia e, a partir de 1922, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Em 1946, passa a chamar-se Exército Soviético, designação que manteria até à dissolução da União Soviética em 1991.
A história do Exército Vermelho cruza-se com a Cheka, a poderosa polícia secreta do regime, que detinha brigadas especiais com a missão de identificar e punir (muitas vezes através de execuções sumárias) anticomunistas, opositores do regime e desertores dentro do Exército. As purgas dos anos 30, durante as quais foi preso e executado um número elevado de altas patentes militares, repercutiu-se negativamente na capacidade organizativa e nas competências militares do Exército Vermelho aquando da invasão alemã. Entre os numerosos conflitos militares em que participou destaca-se a Segunda Guerra Mundial, recordada na União Soviética como Grande Guerra Patriótica e referindo-se apenas ao período a partir da Operação Barbarossa em 1941, no seguimento da quebra do pacto Molotov-Ribbentrop por Hitler. Às pesadas derrotas sofridas pelo Exército Vermelho no início da invasão, segue-se um conjunto de vitórias sobre as forças alemãs (Moscovo, Estalinegrado, etc.) que culmina na invasão da Alemanha e conquista da capital Berlim sob comando do general Júkov. Foi a integração massiva do povo das repúblicas no Exército, inclusivamente de mulheres (estima-se que cerca de 5% e muitas em posições de combate) que permitiu ao Exército Vermelho ser celebrado como libertador do jugo do nazismo. Foi de facto o Exército que mais baixas impôs às forças alemãs e mais territórios lhes conquistou, que libertou parte significativa dos campos de concentração e extermínio (situados maioritariamente a Leste). Foi também o Exército que pagou o preço mais elevado em termos de número de baixas e abusos, potenciados pela extrema brutalidade das forças do Reich no Leste, fruto da ideologia racista nacional-socialista que considerava os povos eslavos inferiores e, na esteira dos discursos sobre o judeo-bolchevismo, o regime soviético como sendo dominado por judeus.
Se é um facto inegável que a derrota do Terceiro Reich se deve grandemente ao Exército Vermelho e ao esforço dos povos da União Soviética, tão pouco pode ser negado que a vitória foi acompanhada de grande brutalidade e numerosos crimes de guerra não apenas para os alemães vencidos e seus aliados. A contestação à presença de monumentos ao Exército Vermelho e a sua vandalização e remoção em vários países do Leste Europeu prendem-se com memórias de violência extrema que acompanharam a libertação do nazismo: ataques indiscriminados a alvos civis, pilhagens, violações em massa de mulheres das mais diversas nacionalidades, perseguição e execução de quem fosse considerado uma ameaça para regimes pró-soviéticos. A violência começava aliás dentro das próprias fileiras do Exército Vermelho. Recaiu duramente sobre os próprios prisioneiros de guerra e trabalhadores forçados soviéticos que, tendo sobrevivido ao cativeiro alemão, foram sujeitos, na libertação, a um processo de filtragem que se pautou por duríssimos interrogatórios com recurso frequente a tortura por unidades da polícia secreta e, em numerosos casos, culminou no envio para os gulags.
Referências
Grossman, Vasily (2007), Um Escritor na Guerra: Vasily Grossman com o Exército Vermelho, 1941-1945. Org. Antony Beevor e Luba Vinagradova. Trad. Hugo Chelo. Introd. e posf. Miguel Morgado. Lisboa: Edições 70.
Zaloga, Steven J; Ness, Leland S. (1998), The Red Army Handbook 1939-1945. Stroud: Sutton Publishing, 1998.