Autor: Georges Bensoussan (cartografia de Mélanie Marie)
Título: Atlas do Holocausto. A Execução dos Judeus da Europa, 1939-1945
Local de publicação: Lisboa
Editora: Guerra & Paz
Ano de publicação: 2022
Tradução: Ana Cristina Câmara
Número de páginas: 176
Edição original, em francês: Atlas de la Shoah – La mise à mort des Juifs d’Europe, 1939-1945. Paris : Autrement, 2014 (2.ª ed., 2021).
Palavras-chave: atlas, infografia do Holocausto, campos de concentração, campos de extermínio, Einsatzgruppen, Aktion Reinhardt, Auschwitz, genocídio
Índice
Introdução
DE EMANCIPADOS A PERSEGUIDOS
Antes de 1933
O anti-semitismo antes de 1939
A acensão do nazismo
A população judaica na Alemanha e na Áustria
As medidas de exclusão no Reich
DE ENCLAUSURADOS A CHACINADOS
Os judeus na Europa alemã
Os programas T4 e 14f13
Os guetos
O gueto de Varsóvia
A radicalização genocida
A questão dos Ciganos (sinti e rom)
Os Einsatzgruppen 1
Os Einsatzgruppen 2
GENOCÍDIO À ESCALA DE UM CONTINENTE
Um genocídio europeu
A Aktion Reinhardt
Bełżec e Treblinka, o coração da Aktion Reinhardt
O auge do genocídio
Auschwitz
Auschwitz-Birkenau
A Europa de Auschwitz
O Norte da Europa
Bélgica
A França dos Campos
A França das rusgas
As espoliações: o caso francês
Hungria e Eslováquia
Roménia e Jugoslávia
O Sul da Europa (Itália, Bulgária, Grécia)
O Médio Oriente e o Norte de África
A política alemã do segredo
As informações
Protestos e políticas de acolhimento
As políticas de resgate
Os países neutros e os Aliados perante o Holocausto
As resistências judaicas
EXTERMÍNIO E BALANÇO DE UMA CATÁSTROFE
O colapso da Alemanha nazi
O balanço do genocídio
Migrantes, deslocados e campos de trânsito
Anexos
Bibliografia
Cronologia
Sinopse
Na qualidade de atlas, o destaque desta obra vai para a componente visual, com os cerca de cem mapas e outros elementos infográficos. Dividida em quatro partes, a primeira centra-se nos antecedentes do Holocausto até ao início da guerra: demografia judaica na década de 1930, movimentos antissemitas, leis discriminatórias e violência crescente contra judeus, primeiros campos de concentração. A segunda parte centra-se sobretudo nas questões de expulsão de judeus, do seu agrupamento em guetos e das «operações móveis de matança» (Raul Hilberg) levadas a cabo pelos Einsatzgruppen. A terceira parte é a mais extensa, ocupando cerca de metade do livro, e centra-se na delineação e concretização de assassínios em massa. Através de variados mapas e esquemas, mostram-se os diversos complexos utilizados sobretudo para extermínio, a natureza diversa das vítimas (também além de judeus), as políticas e ações levadas a cabo em diferentes países da Europa, as espoliações, a resistência e informações cronológicas bem definidas de como os Aliados tinham pleno conhecimento do genocídio desde o outono de 1941. A última parte centra-se na libertação dos campos, migrantes e deslocados e balanços do genocídio. Ainda que os textos que acompanham os conteúdos infográficos nunca sejam extensos – o que, a par da falta de aparato crítico, é aceitável numa obra desta natureza –, cada uma das partes termina com uma conclusão. Apesar de muito sintética, sobre o período e os acontecimento em causa, lança sempre boas linhas de leitura para aprofundar noutras obras e, por vezes, desmistificar algumas ideias que ainda predominam no conhecimento geral sobre o Holocausto. Por exemplo, afirma-se na conclusão da primeira parte que “não existe um plano preestabelecido para o genocídio dos judeus” e que o antissemitismo não foi “uma nota de rodapé do regime” (p. 32); na conclusão da segunda parte, Bensoussan destaca que “a estrada para o genocídio não está traçada no dealbar da guerra” e que “[o] modelo binário intencionalismo/funcionalismo é demasiado simplista: a violência em campo deu mais força à ideologia e, por sua vez, a ideologia radicalizou uma violência que se alimentou a si própria” (p. 66); já na conclusão da última parte, denunciam-se as limitações dos julgamentos dos criminosos, sendo que a maioria não só não foi julgada como permaneceu "no seu país natal, mantendo até a sua verdadeira identidade" (p. 170). Com a sua segmentação pelos mais diversos tópicos e a conciliação de elementos visuais com dados estatísticos, é um livro complementar relevante que privilegia consultas pontuais.
Excerto
“Política: a hora de escolher – Conclusão
O coração do judaísmo mundial encontra-se fisicamente despedaçado, os sobreviventes estão prostrados – eles e as gerações que se seguem. As derradeiras orgias de sadismo apontam, uma última vez, para a responsabilidade de uma dada cultura europeia e alemã nesta tragédia.
O julgamento dos criminosos não passou de uma acção improcedente. O arrependimento foi quase sempre uma pose. Os criminosos, por vezes auxiliados pela Igreja Católica, fugiram para a América do Sul e para alguns Estados árabes (Von Leers para o Egipto, Brunner para a Síria), onde se fizeram consultores em matéria de repressão e de anti-semitismo. A maioria ficou no seu país natal, por vezes até mantendo a sua verdadeira identidade.
Os grandes processos (Nuremberga, 1945-1949); Ulm, 1958; Jerusalém, 1961; Frankfurt, 1963-65, etc.) tiveram uma importância considerável, mas também contribuíram para que se esquecesse que a esmagadora maioria dos culpados nunca foi sequer julgada – ou foi rapidamente libertada por «bom comportamento» ou «motivos de saúde». Foi assim no caso de 200 responsáveis do gueto de Łódź: apenas cinco compareceram em tribunal. E foi também assim com outros assassinos, que estiveram em Chełmno, Auschwitz, Treblinka, Sobibor, Bełżec ou Majdanek, e com os Einsatztgruppen.”
(p. 170)
• Outras obras de Georges Bensoussan
Génocide pour mémoire : Des racines du désastre aux questions d'aujourd'hui. Paris, Editions du Félin.
L'Idéologie du rejet. Levallois-Perret: Manya, 1993.
Mémoires juives (com Jean-Michel Chaumont, Georges Bensoussan, Maurice Kriegel, Théo Klein, ... [et al.]). Paris: Gallimard, 1994.
Du fond de l'abîme. Du fond de l'abîme. Journal du ghetto de Varsovie (com Hillel Seidman e Nathan Weinstock). Paris : Pocket, 2002.
Une histoire intellectuelle et politique du sionisme: 1860-1940. Paris : Fayard, 2002.
Auschwitz en héritage ? D'un bon usage de la mémoire. Paris : Mille et une nuits, 2003.
Europe, une passion génocidaire. Essai d'histoire culturelle. Paris : Mille et une nuits, 2006.
Un nom impérissable : Israël, le sionisme et la destruction des Juifs d'Europe (1933-2007). Paris : Seuil, 2008.
Juifs en pays arabes, Le grand déracinement : 1850-1975. Paris : Tallandier, 2012.
Histoire de la Shoah (7.ª ed.). Paris : PUF : 2020.
L'alliance israélite universelle (1860-2020), Juifs d'Orient, lumières d’Occident. Paris : Albin Michel, 2020.
• Organização de edição:
Ailleurs, hier, autrement : connaissance et reconnaissance du génocide des Arméniens (dir. com Claire Mouradian e Yves Ternon). Paris : Centre de documentation juive contemporaine, 2003.
Les territoires perdus de la République (dir., sob o pseudónimo de Emmanuel Brenner). Paris : Mille et une nuits, 2004.
Dictionnaire de la Shoah (dir. com Jean-Marc Dreyfus, Edouard Husson, Joël Kotek). Paris : Larousse, 2009.
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