Autora: Simone Veil (testemunhos recolhidos por David Teboul)
Título: A Madrugada em Birkenau
Local de publicação: Lisboa
Editora: Quetzal Editores
Ano de publicação: 2021
Tradução: Antonio Sabler
Número de páginas: 274
Edição original, em francês: L’aube à Birkenau. Paris: Les Arènes, 2019.
Palavras-chave: memória; testemunho; deportações em França, campos de concentração; Auschwitz-Birkenau
Índice
O coque de Simone Veil
A Madrugada em Birkenau
Simone e Denise
Simone e Marceline
Simone e Paul
O Kadish será recitado sobre o meu túmulo
Glossário
Agradecimentos
Sinopse
Livro com testemunhos recolhidos por David Teboul, fotógrafo e cineasta francês. Numa pequena introdução, Teboul explica como conheceu Simone Veil e como esta viria, ao longo de década e meia, a abordar a sua experiência nos campos de concentração através de conversas entre ambos. Na secção “A Madrugada em Birkenau”, a mais extensa, Veil começa por falar da sua infância em Nice, numa família judia e laica, da inquietação crescente provocada pelos relatos que chegavam da Alemanha nazi e, com o avançar da guerra, das mudanças políticas em França, da ameaça crescente e do início das perseguições e detenções. Juntamente com a mãe, Yvonne, e uma irmã, Madeleine, é enviada para o campo de concentração de Drancy a 6 de abril de 1944 – a outra irmã, Denise, juntara-se à Resistência. No mês seguinte, seguem para Auschwitz-Birkenau; de julho a janeiro de 1945 são colocadas em Bobrek, subcampo próximo onde trabalharam numa fábrica da Siemens; e, por fim, evacuadas dali para Bergen-Belsen. Dada a natureza do testemunho, proveniente de conversas informais, as descrições são sucintas e fragmentadas, mas também sem cair em simplismos. Bem presente está a dificuldade na representação do Holocausto: “Nada pode fazer pensar nos campos. [...] Nada. Esse horror absoluto não se assemelha a nada do que se possa ler, nada do que se possa escrever.” (p. 83). Além da passagem pelos campos, descreve como, já no pós-guerra, se sentiu profundamente humilhada, quer na qualidade de judia (os comentários recorrentes sobre a número tatuado ou frases que ouviu, como: “Julgava que tinham morrido todos”, p. 100), quer na qualidade de mulher (ouviu, de um amigo: “Foste decerto violada várias vezes...”, p. 100). Também é abordado o antissemitismo de que foi alvo, mesmo ao longo da sua ascensão na vida política – foi ministra da Saúde em França e, mais tarde, presidente do Parlamento Europeu. As três secções seguintes consistem em diálogos. Primeiro, com a irmã mais velha, Denise, que, após ter aderido à Resistência, foi deportada para Ravensbrück e, mais tarde, para Mauthausen – com base em várias fotografias de família, falam sobretudo da infância e da juventude. Os outros dois diálogos são com sobreviventes do Holocausto que conheceu nos campos de concentração: Marceline Loridan-Ivens e Paul Schaffer. O livro termina com um breve texto, transcrito abaixo na íntegra, onde tenta definir o seu judaísmo. Além daquelas já referidas, há uma série de fotografias da infância de Simone Veil a abrir o livro e, pelo meio, há outras tiradas por David Teboul, sobretudo com close-ups do rosto de Veil – destacam-se as que foram tiradas numa visita que ambos fizeram a Birkenau.
Excerto
“Nada e criada no seio de uma família francesa de longa data, eu era francesa sem ter de me pôr essa questão. Mas ser judia, que significa isso para mim?, como era isso para os meus pais? Sendo agnóstica – como eram já os meus avós –, a religião estava por completo ausente do nosso meio familiar.
Do meu pai, retive sobretudo que a sua pertença ao judaísmo estava ligada ao saber e à cultura que os judeus adquiriram ao longo dos séculos, num tempo em que muito poucos tinham acesso a isso. Eles permaneceram o povo do Livro, fossem quais fossem as perseguições, a miséria e a errância.
Para a minha mãe, tratava-se mais de um apego aos valores pelo quais, ao longo da sua longa e trágica história, os judeus não tinham cessado de lutar: a tolerância, o respeito dos direitos de cada um e de todas as identidades, a solidariedade.
Ambos morreram na deportação, deixando-me como única herança esses valores humanistas que, para eles, o judaísmo encarnava.
Deste legado, não me é possível dissociar a lembrança sempre presente, obsessiva, mesmo, dos seus milhões de judeus exterminados pela única razão de serem judeus. Seis milhões entre os quais se contam os meus pais, o meu irmão e muitos dos meus próximos. Eu não posso separar-me deles.
Isto basta para que, até à minha morte, o meu judaísmo seja imprescritível. O Kadish será recitado sobre o meu túmulo.”
(p. 269)
Outras obras de Simone Veil
L'Adoption : données médicales, psychologiques et sociales (com Clément Launay e Michel Soulé) Paris : Éditions sociales françaises, 1968.
Les Hommes aussi s'en souviennent : une loi pour l’Histoire. Paris : Stock, 2004.
Une vie. Paris : Stock, 2007.
Mes combats : Les discours d'une vie. Paris : Bayard éditions, 2016.
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