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Autor: Art Spiegelman
Título: Maus: A História de um Sobrevivente
Local de publicação: Lisboa
Editora: Bertrand Editora
Ano de publicação: 2014
Tradução: Ana Cristina Câmara
Número de páginas: 296
Edições originais, em inglês: MAUS: A Survivor's Tale: My Father Bleeds History. New York: Pantheon Books, 1986; MAUS II: A Survivor's Tale: And Here My Troubles Began. New York: Pantheon Books, 1991.
Palavras-chave: Auschwitz, guetos, memória do Holocausto, romance gráfico, Polónia ocupada, pós-memória, testemunho, trauma


Índice

Parte I – O Meu Pai Sangra História (De meados de 1930 ao inverno de 1944)
   um / o xeque
   dois / a lua-de-mel
   três / prisioneiro de guerra
   quatro / o nó aperta-se
   cinco / a toca dos ratos
   seis / a ratoeira

Parte II – E Aqui Começaram os Meus Problemas (De Mauschwitz até às Catskills e mais além)
   um / Mauschwitz
   dois / Auschwitz (o tempo voa)
   três / ... e aqui começaram os meus problemas...
   quatro / salvo
   cinco / a segunda lua-de-mel


Sinopse

Romance gráfico (graphic novel) que conta como Vladek, pai de Art Spiegelman, sobreviveu ao Holocausto. A narrativa é construída simultaneamente sobre duas linhas temporais. Uma inicia-se em 1978, período em que, ao longo de várias visitas, Spiegelman conversa com Vladek e regista as memórias deste – primeiro por escrito, mais tarde com recurso a um gravador. Vladek é agora um idoso que vive em Nova Iorque e voltara a casar – após o suicídio de Anja, mãe de Spiegelman, também sobrevivente do Holocausto. A segunda linha temporal corresponde aos relatos de Vladek, a partir da sua juventude na Polónia, em meados de 1930, quando conhece Anja e passou a viver num meio abastado. Narra como foi enviado para a linha da frente no início da invasão da Polónia e foi feito prisioneiro de guerra, de como foi “libertado” e voltou a reunir-se com Anja em Sosnowiec, para, mais tarde, serem enviados para o gueto de Srodula. Após terem conseguido esconder-se por algum tempo, Anja e Vladek acabam deportados para Auschwitz – este passa então a falar dos abusos nos campos, da fome, de como se adaptou para sobreviver. A memória individual/familiar – também espelhada na relação conflituosa entre Vladek e Spiegelman, bem como os sentimentos de culpa com que este lida e o trauma causado pelo suicídio da mãe – cruza-se com a memória coletiva do Holocausto e as dificuldades da sua representação. Spiegelman utiliza cabeças de animais para retratar os personagens: os judeus aparecem como ratos, os nazis como gatos, os polacos como porcos. Refira-se ainda a nota no início do livro, que dá conta de que as incorreções gramaticais das falas de Vladek são propositadas e exigidas em todas as traduções, pois apenas começara a falar inglês quotidianamente após a sua ida para os Estados Unidos. Já nas recordações da juventude de Vladek, uma vez que fala na sua língua de origem, estes desvios linguísticos não existem. Na medida em que as memórias de Vladek são transmitidas a alguém de uma geração seguinte – Spiegelman, que as recria –, estamos aqui perante um trabalho de pós-memória (Marianne Hirsch). Obra complexa que incorpora elementos de vários géneros – autobiografia, testemunho/memórias, história e ficção –, Maus ganhou o Prémio Pulitzer em 1992.


Excerto

“Para todo o lado devíamos correr – parecia ginástica – e fomos a correr para a sauna...

– Está gelada!
– Dá graças a Deus por não ser gás!
Eram aqui os chuveiros dos vivos, não dos mortos, aqueles chuveiros de gás como tínhamos ouvido dizer.

Na neve, atiraram a nós roupa de  prisioneiros.

– Schnell! Schnell! Schnell!
Nunca nem olhavam para o tamanho do que mandavam.

Um tipo tentou trocar...

D-desculpe, estes sapatos são muito pequenos.

– Se calhar assim já servem!
[CRAC]
Os sapatos eram de madeira!

Eu tive sorte. Tudo me servia, um bocado. Só a camisa estava rasgada e era grande...

– Fizeram a nós o registo... Tomaram de nós os nomes e aqui puseram a mim o meu número.
[175113]”

(p. 186)


Outras obras de Art Spiegelman

     Breakdowns: Portrait of the Artist as a Young %@&*! New York: Belier Press, 1977.
     The Wild Party (ilustração; texto de Joseph Moncure March). New York: Pantheon Books, 1994.
     Open Me... I'm A Dog. New York: Joanna Cotler Books, 1997.
     Jack Cole and Plastic Man: Forms Stretched to Their Limits (com Chip Kidd). San Francisco: Chronicle Books, 2001.
     In the Shadow of No Towers. London: Viking (2004).
     Jack and the Box. New York, NY: Toon Books, 2008.
     Be a Nose! San Francisco, McSweeney's, 2009.
     MetaMaus: A Look Inside a Modern Classic, Maus. New York: Random House; Pantheon Books, 2011.
     Co-Mix: A Retrospective of Comics, Graphics, and Scraps. Montréal: Drawn and Quarterly, 2013.
     Street Cop (ilustração; texto de Robert Coover). London: isolarii, 2021.


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