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Female SS Guards and Workaday Violence

Autora: Elissa Mailänder
Título: Female SS Guards and Workaday Violence. The Majdanek Concentration Camp, 1942-1944 [As Guardas SS e a Violência Quotidiana. O Campo de Concentração de Majdanek, 1942-1944]
Local de publicação: East Lansing
Editora: Michigan State University Press
Ano de publicação: 2015
Tradução: Patricia Szobar
Número de páginas: 434
Edição original, em alemãoGewalt im Dienstalltag. Die SS-Aufseherinnen des Konzentrations- und Vernichtungslagers Mayjdanek 1942-1944. Hamburg: Hamburger Edition, 2009.
Palavras-chave: Holocausto, mulheres, guardas, campos de concentração e de extermínio, violência quotidiana, gender, Majdanek, Ravensbrück


Índice

Lista de Ilustrações
Agradecimentos
Introdução
Siglas

Capítulo 1. Considerações metodológicas e teóricas
Capítulo 2. O campo de concentração e de morte de Majdanek. Uma visão geral
Capítulo 3. Mulheres à procura de trabalho. Trajetórias para carreiras nos campos de concentração
Capítulo 4. O campo de treino de Ravensbrück. O campo de concentração como espaço disciplinador
Capítulo 5. Para Leste. O campo de concentração e de extermínio de Majdanek, 1942-1944
Capítulo 6. As condições de trabalho em Majdanek
Capítulo 7. Aniquilação como trabalho: o trabalho diário de matar no campo
Capítulo 8. Escapadelas e o seu significado dentro da estrutura de poder e violência no campo
Capítulo 9. Licença para matar? Comportamentos não autorizados das guardas do campo
Capítulo 10. Violência como prática social
Capítulo 11. Crueldade: Uma perspetiva antropológica
Conclusão

Notas
Bibliografia
Índex


Sinopse

A violência e a crueldade das guardas de campos de concentração e de extermínio do Terceiro Reich têm alimentado um profícuo discurso de demonização, sexualização e erotização dessas mulheres. O estudo de Mailänder sobre as guardas do campo de Majdanek (Polónia) não só serve de contraponto a essas abordagens sensacionalistas e erotizantes da violência, como também as analisa criticamente. A historiadora parte do princípio de que é no quotidiano que o contexto ideológico se cruza com os interesses pessoais, criando as condições que permitiram aos agentes históricos não só tolerar as exigências do regime, mas também com elas cooperar. Mailänder analisa, assim, o modo como as ordens superiores foram decifradas, entendidas, traduzidas, reformuladas, adaptadas e alargadas pelas guardas dos campos no seu “trabalho” quotidiano. O estudo situa-se assim na linha das correntes historiográficas que argumentam que não é possível compreender a destruição provocada pelo Terceiro Reich se nos focarmos apenas nas intenções de Hitler e na atuação das elites nacional-socialistas. Partindo da investigação que aponta para a violência racionalizada/normalizada pelos perpetradores como “trabalho” numa lógica industrial (Alf Lüdtke), Mailänder chama a atenção para as “oportunidades de carreira” que o Terceiro Reich oferecia a estas mulheres de classes baixas. Argumenta que, longe de estarem motivadas por convicções ideológicas e de revelarem inicialmente uma adesão ao antissemitismo do regime, estas mulheres foram movidas sobretudo por benefícios pessoais, interesses materiais, pelas possibilidades de ascensão social que o “trabalho” para as SS lhes oferecia, bem como por certas subjetividades (o gosto pela aventura). Mostra ainda que foi a prática da violência nos campos que as aproximou progressivamente da ideologia do regime, que, para além de lhes oferecer uma identidade corporativa, lhes conferia legitimidade para os seus atos enquanto “trabalho” e “serviço bem feito”. Longe de terem nascido “especialistas do terror”, aquelas mulheres tornaram-se violentas num contexto institucional e sociocultural específico através de um sistema disciplinador que lhes oferecia simultaneamente formas de realização pessoal e profissional. Mailänder, na linha de Arendt e de Browning, mostra, assim, que os crimes mais monstruosos não contam apenas com a participação de fanáticos da ideologia. A investigadora aponta para o familiar, o banal, o “universal” que pode conduzir ao crime: a busca de benefícios e de segurança profissional, compromissos com vista à ascensão social, a vontade de agradar aos superiores e de usufruir do respeito dos colegas, a não reflexão sobre a natureza do Estado que se serve, a racionalização do ato violento como legitimado pela “ética do trabalho”, a desumanização e desresponsabilização individual dentro de uma lógica industrial do trabalho. É que, se Majdanek era um lugar de terror, sofrimento e morte para os/as prisioneiros/as, para as guardas aquele espaço era vivido sobretudo como lugar de trabalho.


Excerto

Muitas das guardas que fizeram o treino inicial em Ravensbrück foram trabalhar mais tarde para Majdanek. Como muitas sobreviventes de Ravensbrück recordaram mais tarde, quando as novas recrutas chegavam ao campo, mostravam-se hesitantes, tímidas e inseguras. Porém, em apenas algumas semanas, transformavam-se em “SS Aufseherinnen”, “guardas SS”. A acomodação à vida no campo de concentração, bem como sua estrutura paramilitar, desempenharam um papel fundamental nessa transformação. As jovens recrutas viviam em casernas, usavam uniforme e recebiam uma arma de fogo, e tudo isto – em conjunto – servia objetivos disciplinares e ajudava a promover uma nova sensação de empoderamento. Tal era particularmente acentuado pelos uniformes e pelas armas de fogo. Ao mesmo tempo, o estatuto das guardas como membros de um grupo supostamente homogéneo conferia-lhes um sentido de identidade corporativa forte e aliciante. O treino no campo de concentração também lhes oferecia uma oportunidade para obter novas qualificações profissionais, um estilo de vida seguro e, de maneira não oficial, inúmeras oportunidades de enriquecimento pessoal. Apesar de as guardas serem funcionárias de baixo escalão e estarem sujeitas a regulamentos supostamente rígidos, as suas tarefas diárias ofereciam-lhes muitas oportunidades de autonomia e até mesmo de contornar as regras. Viver e trabalhar num campo de concentração implicava mais do que obedecer a regulamentos, cumprir ordens, morar em casernas e obedecer a uma hierarquia militar. Em vez disso, os uniformes e as armas, os regulamentos do campo e os deveres administrativos articulavam-se entre si para promover, entre as mulheres, um sentido de identidade profissional e de pertença a um grupo; ao mesmo tempo, davam um sentido de legitimidade ao seu trabalho. Ao testarem as oportunidades de poder e violência ao seu dispor no trabalho diário em Ravensbrück, as recrutas começaram a internalizar as técnicas disciplinares às quais estavam sujeitas, enquanto abraçavam a sensação de autoridade que acabavam de descobrir.

(p. 273-74)


Outras publicações de Elissa Mailänder

Monografia

     Amour, mariage, sexualité. Une histoire intime du nazisme (1930-1950). L'Univers historique. Paris, Éditions du Seuil, 2021.

Artigos

     "Forum: Holocaust and history of gender and sexuality" (com Anna Hájková, Doris Bergen, Patrick Farges e Atina Grossmann). German History, 36 (1), 2018, pp. 78-100.
     "Making Sense of a Rape Photograph: Sexual Violence as Social Performance on the Eastern Front", 1939–1944. Journal of the History of Sexuality, 26 (3), September 2017, pp. 489-520.
     "Meshes of Power: The Concentration Camp as Pulp or Art House in Liliana Cavani’s The Night Porter". In: Elizabeth Bridges; Kristin Vander Lugt (eds). Nazisploitation! The Nazi Image in Low-Brow Cinema and Culture. New York/London, Continuum, 2011, pp. 175-195.


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