Autor: Timothy Snyder
Título: Bloodlands. Europe between Hitler and Stalin
Local de publicação: Nova Iorque
Editora: Basic Books
Ano de publicação: 2010
Número de páginas: 508
Edição em português de Portugal: Terra Sangrenta. A Europa entre Hitler e Estaline. Trad. Rita Guerra. Lisboa: Bertrand, 2011.
Edição em português do Brasil: Terras de Sangue. A Europa entre Hitler e Stalin. Trad. Mauro Pinheiro. Rio de Janeiro: Record, 2012.
Palavras-chave: Terras de Sangue, nacional-socialismo, estalinismo, judeus, Polónia, Ucrânia, Bielorrússia, Países Bálticos, extermínio em massa, fome, terror nacionalista, limpeza étnica
Índice
Prefácio: Europa
Introdução: Hitler e Estaline
1. As fomes soviéticas
2.Terror de classes
3.Terror nacionalista
4. Europa de Molotov-Ribbentrop
5. A economia do apocalipse
6. A solução final
7. Holocausto e vingança
8. As fábricas de morte nazis
9. Resistência e incineração
10. Limpezas étnicas
11. O antissemitismo estalinista
Conclusão: Humanidade
Números e terminologia
Resumo
Agradecimentos
Bibliografia
Notas
Índex
Sinopse
O Nacional-Socialismo e a Segunda Guerra Mundial são dos temas mais bem estudados da história europeia. A eles continua a associar-se o Holocausto e os campos de concentração e de extermínio, de tal forma que Auschwitz se tornou o símbolo do mal e da rutura civilizacional europeia no século XX. Com a sua obra Bloodlands, o historiador Timothy Snyder, da Universidade de Yale, pretende corrigir esta imagem deturpada, apontando que os maiores horrores da Segunda Guerra Mundial e do século XX não ocorreram em campos de extermínio e de forma industrializada, mas em campos e valas na Europa de Leste, mais precisamente no território entre a Alemanha e a Rússia, onde se situa parte da Polónia, a Ucrânia, a Bielorrússia, Lituânia, Letónia, Estónia e a parte ocidental da Rússia soviética. Esta zona, que ele apelida de “Terras de Sangue”, foi palco da morte de 14 milhões de pessoas, judeus, bielorussos, ucranianos, polacos, russos, estónios, lituanos e letões, ou seja nativos destas terras, entre 1933 e 1945. As vítimas não eram soldados nem combatentes de guerra, mas civis; muitas delas, mulheres, crianças e idosos sem armas e que sucumbiram à política assassina tanto do regime alemão como do estalinista. É a eles a quem Bloodlands pretende dar protagonismo. Segundo Snyder, a forte associação desta época com Auschwitz impede que se entenda verdadeiramente a brutalidade do nacional-socialismo na medida que faz esquecer que Hitler não queria apenas erradicar os judeus, mas também destruir os estados da Polónia e da União Soviética, exterminar as suas elites e assassinar dezenas de milhões de eslavos, ou seja, russos, ucranianos, bielorussos e polacos. Se os alemães tivessem ganho a guerra contra a União Soviética, lembra Snyder, trinta milhões de civis teriam morrido de fome no primeiro inverno e mais dez milhões teriam sido expulsos, mortos, assimilados ou escravizados posteriormente. Os sentimentos de gratidão que Estaline colheu por ter ajudado a derrubar os Nazis na fronte Leste fizeram esquecer que o extermínio em massa estalinista também atingiu números impressionantes, tanto durante a guerra como durante a paz. A política de coletivização da agricultura levou à morte à fome de cinco milhões de pessoas, 3,3 milhões dos quais ucranianos, entre 1932 e 1933. Seguiu-se o grande terror dos anos 1937-38, durante os quais a União Soviética perseguiu os seus inimigos, principalmente agricultores, muitos deles sobreviventes das vagas de fome e do Gulag, muitos deles polacos. Um terço dos 14 milhões de civis que sucumbiram nas “Terras de Sangue” foram vítimas da política de modernização da União Soviética.
O enfoque temático e a mudança de perspetiva são os aspetos inovadores do livro de Snyder, que já foi traduzido em várias línguas e ganhou vários prémios. Ao contrário da prática historiográfica de contornos nacionais, Snyder não se concentra num território político delimitado, mas num espaço de sofrimento humano, resultado dos piores crimes dos piores regimes do século XX, mas que tinha sido votado ao esquecimento devido à cortina de ferro. O desmoronamento da União Soviética e o fim da guerra fria facilitaram esta mudança de perspetiva e a tentativa de corrigir uma perceção da história largamente influenciada pelos norte-americanos e ingleses, os libertadores dos campos de concentração em Bergen-Belsen e Dachau, que, no entanto, nunca tinham visto os piores campos de concentração e as Terras de Sangue.
Acima de tudo, Snyder pretende dar voz às vítimas dos dois sistemas nesse território para deixarem de ser apenas números na memória coletiva. Para tal, cita diários, usa testemunhos e não teme recorrer a meios literários para lhe dar visibilidade. É também nesta perspetiva que se baseia a comparação dos sistemas nacional-socialista e estalinista, um dos temas mais polémicos da história que, desde os estudos de Hannah Arendt e Ernst Nolte, muita tinta fez correr. O principal objetivo de Snyder não é a análise das diferenças e semelhanças entre os dois sistemas, mas exposição da brutalidade e da falta de humanismo que caracterizaram ambos regimes na busca dos seus objetivos. Pois, da perspetiva das vítimas, os sistemas intersetaram-se nas suas políticas desumanas e, acima de tudo, nas suas consequências monstruosas. Principalmente após o ataque da Alemanha à União Soviética, em territórios como Ucrânia, Bielorússia e Leninegrado, onde tinham já perecido quatro milhões sobre a alçada soviética, os alemães exterminaram ainda mais em metade do tempo e levaram o sofrimento humano ao seu extremo.
Excerto
As “Terras de Sangue” são o território onde a maioria dos judeus vivia, onde os planos imperiais de Hitler e Estaline se sobrepuseram, onde a “Wehrmacht” e o Exército Vermelho luta-ram, onde o ministério de política interna da União Soviética e a organização SS alemã fizeram confluir as suas forças. A maior parte dos lugares de morte situa-se nas “Terras de Sangue: na geografia política dos anos 1930 e inícios dos 1940. isso correspondia à Polónia, aos países Bálticos, à Bielorrússia e à Ucrânia soviéticas e à orla ocidental da Rússia soviética. Associa-se os crimes de Estaline à Rússia e os de Hitler à Alemanha. Mas a parte mais mortífera da União Soviética foi a periferia não-russa e os nazis mataram principalmente fora da Alemanha. Julga-se que o horror do século XX se desenrolou essencialmente em campos de concentração. Mas não foi nos campos que morreram a maior parte das vítimas do Nacional-Socialismo e do Estalinismo. Estes mal-entendidos em torno dos sítios e dos métodos de morte em massa impedem-nos de perceber o horror do século XX.
Outras obras de Timothy Snyder
• Edições em português
Pensar o século XX (com Tony Judt). Trad. Marcelo Felix. Lisboa: Edições 70, 2012.
Terra Negra. O Holocausto como História e Aviso. Trad. Pedro Carvalho Guerra e Rita Carvalho e Guerra. Lisboa: Bertrand Editora, 2016.
Sobre a Tirania. Vinte Lições do Século XX. Trad. Frederico Pedreira. Lisboa: Relógio d'Água Editores, 2017.
O Caminho para o Fim da Liberdade. Rússia, Europa, América. Trad. Pedro Éloi Duarte. Lisboa: Edições 70, 2019.
A Nossa Doença. Lições sobre Liberdade a Partir de um Diário Hospitalar. Trad. Judite Jóia. Lisboa: Edições 70, 2020.
• Edições em inglês
Nationalism, Marxism, and Modern Central Europe: A Biography of Kazimierz Kelles-Krauz. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1998.
Wall Around the West: State Power and Immigration Controls in Europe and North America (org. com Peter Andreas). Lanham, MD: Rowman and Littlefield, 2000.
The Reconstruction of Nations: Poland, Ukraine, Lithuania, Belarus, 1569-1999. New Haven, CT; London: Yale University Press, 2003.
Sketches from a Secret War: A Polish Artist's Mission to Liberate Soviet Ukraine. New Haven, CT: Yale University Press, 2005.
The Red Prince: The Secret Lives of a Habsburg Archduke. New York: Basic Books, 2008.
Bloodlands: Europe Between Hitler and Stalin. New York: Basic Books, 2010.
Thinking the Twentieth Century (com Tony Judt). London: Penguin, 2012.
Black Earth: The Holocaust as History and Warning. New York: Tim Duggan Books, 2015.
On Tyranny: Twenty Lessons from the Twentieth Century. New York: Tim Duggan Books, 2017.
The Road to Unfreedom: Russia, Europe, America. Tim Duggan Books, 2015.
Our Malady: Lessons in Liberty from a Hospital Diary. New York: Crown, 2020.
Mais informações sobre Timothy Snyder aqui.