O Relatório Vrba-Wetzler constitui o primeiro testemunho pormenorizado sobre os campos de extermínio, a partir do exemplo de Auschwitz. Os autores do Relatório, Rudolf Vrba e Alfred Wetzler, ambos de nacionalidade eslovaca, tinham sido deportados, em 1942, da Eslováquia para Auschwitz, de onde conseguiram fugir em Abril de 1944. Não estando diretamente sob o domínio nazi, a Eslováquia era dirigida por um governo, encabeçado pelo sacerdote católico Jozef Tiso, de pendor ultranacionalista e ferozmente antissemita, que empreendeu, a partir de 1942, a entrega sistemática da sua população judaica à máquina de extermínio nazi. Segundo o testemunho de Rudolf Vrb, o propósito imediato da tentativa de fuga bem-sucedida era avisar os judeus húngaros da deportação iminente. No Relatório, escrito em finais de Abril de 1944, encontram-se descritos pela primeira vez em pormenor os campos de Auschwitz I e II, as câmaras de gás e os crematórios, a organização interna e o quotidiano da vida nos campos, sendo também feita uma apreciação da importância económica do complexo de Auschwitz para o Terceiro Reich e uma estimativa do número de vítimas. Por caminhos já impossíveis de reconstituir, o Relatório, entregue a um contacto do conselho judaico eslovaco, chegou a Budapeste, à Suíça e ao Vaticano. Não sendo de excluir que possa ter contribuído para salvar algumas vidas de judeus da Hungria, não apenas o propósito imediato de impedir a deportação dos judeus húngaros como a intenção mais ampla de agitar a consciência mundial, levando, porventura, a uma intervenção aliada traduzida no bombardeamento das vias-férreas e dos campos, não se materializaram. O significado histórico do Relatório é, não obstante, de enorme relevância.
Referências
Freedland, Jonathan (2023), O Mestre da Fuga. O homem que fugiu de Auschwitz para avisar o mundo. Trad. João Pedro Tapada. Lisboa: Bertrand.
Vrba, Rudolf (1964), I Cannot Forgive. New York: Grove Press.