Autora: Monika Maron
Título: Pavel’s Letters [As Cartas de Pavel]
Local de publicação: Londres
Editora: Harvill Press
Ano de publicação: 2002
Traducão: Brigitte Goldsten
Número de páginas: 160
Edição original, em alemão: Pawels Briefe. Eine Familiengeschichte. Frankfurt am Main: Fischer Verlag, 1999.
Palavras-chave: memória individual, memória coletiva, RDA, muro de Berlim, história da Alemanha
Índice
[não tem]
Sinopse
Pavel’s Letters é um relato biográfico de Monika Maron (*1941), uma escritora da antiga República Democrática da Alemanha (RDA). Através de memórias, fotografias e cartas ela reconstrói a história da família ao longo de três gerações: a dos avós, a da mãe e a própria. Especial preponderância adquire a história dos avós maternos, principalmente a do avô Pavel, que foi deportado para a Polónia em 1939, deu entrada no gueto de Belchatow em 1942 e faleceu pouco depois, ou nas florestas perto de Belchatow, ou no campo de extermínio de Kulmhof (Chełmno). A esposa, Josefa, com quem tinha três filhos, segue-o para a Polónia e, doente, morre antes dele. Pavel nasceu e morreu, pois, como judeu e como pola-co apesar de nunca ter praticado a religião judaica e viver em Berlim-Neukölln há 30 anos. Antes de Hitler subir ao poder, tinha-se convertido à fé batista e casado com Josefa, alemã católica, também ela convertida, e ariana segundo as leis raciais nazis.
Helene Iglarz, a mãe da narradora, teve uma relação com um soldado, o seu pai. Porém, as leis raciais nazis proibiam a união entre eles. Depois da Segunda Guerra Mundial, Helene casou-se com o comunista Karl Maron, o padrasto da protagonista, que se tornaria ministro do Interior (1955-1963) e parte da nomenclatura da RDA, posição que obrigou a família a mudar-se para Berlim-Leste. Assim, Monika Maron cresceu na RDA, integrou a Freie Deutsche Jugend (FDJ), uma organização de jovens daquele país que visava preparar a juventude para a sociedade comunista, e trabalhou no teatro e como jornalista antes de se dedicar completamente à escrita em 1976. Alcançou o seu primeiro êxito na RFA em 1981 com o livro Flugasche, rejeitou o comunismo e mudou-se para a Alemanha Ocidental em 1988. No entanto, a sua mãe continuou leal ao comunismo e ao sistema vigente, mesmo após a decisão da filha e a unificação da Alemanha.
Pavel’s Letters não é um livro sobre o Holocausto. Apesar de o Holocausto pairar sobre a história dos avós, a narradora opta por não centrar na morte deles o relato sobre as suas vidas. Através do retrato familiar, ela faz desenrolar-se a história conturbada da Alemanha ao longo de quase um século, mais precisamente, a crise económica, o Nacional-Socialismo, a Segunda Guerra Mundial, a fundação da RDA, a construção do muro de Berlim, a sua queda e o início da nova república de Berlim. Deste modo, ilustra como as ideologias dividiram as famílias. Pavel’s Letters não é, pois, apenas um confronto com a história da família, com os limites da escrita e da memória, mas também com a história alemã e o seu impacto na identidade e nos destinos individuais e coletivos.
Excerto
“As memórias têm o seu tempo. Há eventos passados que pouco entendemos, sobre os quais pouco nos foi dito e dos quais temos noção de que, um dia, vamos estudá-los e dar-lhes a atenção com a calma e o rigor necessários. Pensamos, um dia temos de saber ao certo. Podem passar-se anos, até décadas, ao longo dos quais, de vez em quando, nos ocorre que, um dia, tencionávamos pegar no assunto e recordar algo ou alguém devidamente. Julgo que assim se passou com a história dos meus avós.”
Outras obras de Monika Maron
Flugasche. Frankfurt am Main: S. Fischer 1981
Das Missverständnis. Frankfurt am Main: S. Fischer 1982
Die Überläuferin. Frankfurt am Main: S. Fischer1986
Animal triste. Frankfurt am Main: S. Fischer 1996
Ach Glück. Frankfurt am Main: S. Fischer 2007
Bitterfelder Bogen. Ein Bericht. Fischer Verlag, Frankfurt am Main 2009
Was ist eigentlich los?: Ausgewählte Essays aus vier Jahrzehnten. Hamburg: Hoffmann und Campe 2021