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Theresienstadt

Theresienstadt (Terezín), povoação fortificada do Norte da Boémia mandada construir pela imperatriz Maria Teresa em 1780, foi transformada em novembro de 1941 em campo de internamento para 53 272 judeus da Boémia e da Morávia e funcionou, a partir de julho de 1942, como gueto e campo de concentração para judeus do Reich que, por uma ou outra razão, eram objeto de tratamento supostamente privilegiado – pessoas socialmente destacadas com mais de 65 anos, artistas e cientistas, participantes condecorados na Primeira Guerra Mundial, etc. As condições reais, contudo, em pouco se diferenciavam das de qualquer outro campo de concentração. A exemplo dos guetos, Theresienstadt era autoadministrada por um conselho judaico. O campo serviu aos nazis como montra para o estrangeiro, alimentando a ficção de um sistema de aprisionamento regido por princípios de humanidade, suficientemente credível para convencer uma delegação da Cruz Vermelha Internacional, que visitou o campo em 23 de julho de 1944.

O filme de propaganda conhecido pelo título O Führer Oferece uma Cidade aos Judeus, rodado entre agosto e setembro de 1944, pretendia representar um quotidiano vivido de modo pacífico e bem organizado. Após a realização do filme, que não chegou a circular publicamente e de que se conhecem apenas alguns excertos, o realizador e a maior parte dos figurantes, incluindo as crianças, foram deportados para Auschwitz e assassinados.

Apesar das condições precárias, a organização interna do campo incluía um sistema de ensino e um conjunto de iniciativas de caráter cultural. A ópera O Imperador da Atlântida, de Viktor Ullmann, com libreto de Peter Kien, ensaiada no campo, mas cuja representação seria proibida (tanto o compositor como o libretista foram assassinados em Auschwitz), constitui um exemplo singular da extraordinária capacidade de afirmação de um princípio de humanidade num meio por definição anti-humano.

O campo de Theresienstadt serviu, em larga medida, como estação intermédia do processo de deportação para Auschwitz, que abrangeu 88 000 judeus dos mais de 140 000, provindos de diferentes países, que deram entrada no campo. Calcula-se que tenham morrido em Theresienstadt cerca de 33 500 pessoas, tendo sobrevivido cerca de 23 000. O campo foi libertado pelo Exército Vermelho em 8 de maio de 1945.

 

Referências
     Adler, H. G. (2017), Theresienstadt 1941-1945. The Face of a Coerced Community. Cambridge: Cambridge University Press.

     Benz, Wolfgang (2013), Theresienstadt. Eine Geschichte von Täuschung und Vernichtung. München: C.H. Beck.
     Friesová, Jana Renée (2002), Fortress of My Youth: Memoir of a Terezín Survivor. Madison, WI: University of Wisconsin Press.
     Hájková, Anna (2020), The Last Ghetto: An Everyday History of the Theresienstadt Ghetto, 1941-1945. Oxford: Oxford University Press.
     Lanzmann, Claude (2015), Le dernier des injustes. Paris: Editions Gallimard.
     Noack-Mosse, Eva (2018), Last Days of Theresienstadt. Madison: University of Wisconsin Press.
     Schiff, Vera (2012), The Theresienstadt Deception: The Concentration Camp the Nazis Created to Deceive the World. Lewistone: The Edwin Mellen Press.