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Eichmann, Adolf

De nacionalidade austríaca, Adolf Eichmann (1906-1962) inscreveu-se em 1 de abril de 1932 na filial austríaca do NSDAP. Após a ilegalização desta, emigrou para a Alemanha, tornando-se, a partir de 1 de outubro de 1934, responsável pela “questão judaica” nos serviços de segurança nazis. Em agosto de 1938, foi o encarregado da organização da “Repartição Central para a Emigração Judaica”, em Viena, tornando-se, em janeiro de 1939, diretor da “Central do Reich para a Emigração Judaica” e assumindo sucessivamente diversas responsabilidades no processo que levaria à “solução final”. Em 10 de janeiro, redigiu, na qualidade de braço direito de Reinhard Heydrich, a ata da Conferência de Wannsee. Em março de 1944, foi responsável direto pela organização da deportação dos judeus húngaros para Auschwitz.

Eichmann foi um dos principais responsáveis pela deportação de mais de 3 milhões de judeus dos territórios sob jurisdição nazi e, enquanto tal, um dos mais relevantes organizadores do genocídio. Preso no final da guerra pelas tropas norte-americanas, conseguiu fugir em 1946, acabando por se instalar na Argentina, onde viveu, com o nome de Ricardo Klement, até maio de 1960, altura em que foi raptado por agentes dos serviços secretos israelitas e levado para Israel. O seu julgamento em Jerusalém, iniciado em 10 de abril de 1961 com a leitura da extensa ata de acusação pelo procurador-geral Gideon Hausner, teve vasta repercussão internacional e constituiu um momento marcante da confrontação com a memória do genocídio nazi e da constituição do que viria a chamar-se a “era do testemunho”, nomeadamente, pela convocação de mais de 100 testemunhas sobreviventes às quais o tribunal concedeu um amplo espaço de intervenção. Eichmann –  que, ao longo do julgamento, procurou, com o apoio da sua defesa, construir a imagem de pequeno burocrata consciencioso no cumprimento de ordens, mas sem responsabilidade na tomada de decisões, que levaria Hannah Arendt, que acompanhou o julgamento, a formular o seu célebre, frequentemente mal compreendido, conceito da “banalidade do mal” – declarou-se inocente relativamente aos 15 pontos da acusação. O seu envolvimento direto na máquina de extermínio em lugares de máxima responsabilidade, amplamente demonstrado em tribunal, levaria, porém, à sua condenação à morte em 15 de dezembro de 1961, tendo a sentença sido executada em 1 de junho de 1962.

 

Referências
     Arendt, Hannah (2017), Eichmann em Jerusalém. Uma Reportagem sobre a Banalidade do Mal. Trad. Ana Corrêa da Silva. Lisboa: Ítaca.
     Lipstadt, Deborah E. (2011), The Eichmann Trial. New York: Schocken Books.
     Wieviorka, Annette (2011), Eichmann. De la traque au procès. Bruxelles: André Versaille.